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Lives são alternativas para informar e entreter em tempos da Covid-19

Em tempo de pandemia as lives surgiram como alternativa para informação, formação e entretenimento digital

Vivemos tempos antes nunca imaginados. Um isolamento social forçado, por conta de uma pandemia gerada por um vírus que assola toda a humanidade e que não escolhe país, gênero, cor ou classe social, que veio nos tornar mais solidários e humanos trazendo à tona o altruísmo em prol de uma causa maior: a sobrevivência de toda a humanidade e nos colocar diante de reflexões sobre nossos comportamentos e amor ao próximo.
Muitos são os efeitos causados pela Covid-19 o que tem feito com que as pessoas busquem formas de driblar e mitigar os impactos danosos dos dias vazios e incertos que por enquanto não sabemos até quando permanecerão. As Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, com a Internet, as redes sociais digitais e seus derivados, tornaram-se corriqueiras em tempos de coronavírus, preenchendo os dias de isolamento social e sendo uma alternativa de trabalho disponível. O que antes era ainda novo, hoje se torna quase que, essencial para alegrar – ou entediar – os dias em casa. É inegável o fato de que nunca estivemos tão próximos uns dos outros, tão ligados por meios virtuais e, justamente por isso nos desperta paradoxalmente ao momento, o desejo latente de estar em contato físico com os outros. Abraçar, beijar, tocar… sentir o calor humano nunca foi tão desejado. Quem sabe quando tudo isso passar nos tornamos seres humanos melhores e passamos a dar valor às pequenas coisas da vida.
Rede Solivida e as Lives Direitos Humanos em Tempo de Pandemia
A Rede Solivida acompanhando as inovações tecnológicas e digitais, juntamente com seus parceiros, percebeu nas lives um espaço de informação, formação e entretenimento nesses tempos de isolamento social durante a pandemia. Buscando promover momentos de reflexões sobre temas importantes para a sociedade, foi criada uma série de lives chamada de SoliLive disponibilizadas em plataformas digitais e nas redes sociais.

A primeira da série realizada no dia 20 de Maio trouxe como tema central a situação carcerária no Brasil e teve a participação de integrantes da Rede que realizam um trabalho social junto a esse público e puderam relatar suas experiências e vivências destacando a situação de superlotação nos presídios e as condições insalubres em que vivem os encarcerados. “Mesmo que eles estejam presos, precisam de dignidade, pois são seres humanos”, apontou Hermano José, do Projeto Nova Vida do Crato/CE. A Irª Maria das Graças com larga experiência junto a Pastoral Carcerária no Pernambuco, lembrou a falta que a pastoral vem fazendo nos presídios, devido a pandemia. “As pessoas estão sendo tratadas como bichos nos cárceres, é uma tristeza, pois eles são filho de Deus, são humanos, percebemos que não tem lugar para dormir, dormem no chão, isso dói, falta amor nos presídios. E com a ausência das visitas da pastoral, eles estão ficando ociosos e não temos como fiscalizar a dignidade desses presidiários.”

A Constituição Federal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal garantem um tratamento punitivo que respeite a vida desses indivíduos como sujeitos de direito que merecem tratamento justo e não desumano. Infelizmente os poderes públicos são omissos e grande parte da sociedade por desinformação ou por influência de alguns grupos ideológicos e da mídia, reproduz o discurso de que presos não deveriam ter direitos. Esse tipo de discurso contribui para o aumento e legitimidade da crueldade no sistema carcerário. Utilizar os recursos tecnológicos a favor da conscientização da importância do respeito aos Direitos Humanos foi uma forma que a SoliVida encontrou de não parar os trabalhos e manter as instituições em sintonia na luta por esses direitos.

“Defesa da Vida na Casa Comum” foi tema da segunda live inspirado na conscientização que tem sido um dos focos do trabalho da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que desde a encíclica Laudato Sí, defende a ideia da promoção e conscientização da educação ambiental, observando o descaso humano com o planeta e suas conseqüências. A participação da Irª Marie Henriqueta, da Comissão Justiça e Paz CNBB NE2 Pará e Amapá e do Frei Wellington Reis da Província Franciscana Santo Antônio do Brasil trouxe reflexões muito importantes de como estão vivendo nos dias de hoje crianças e adolescentes, ressaltando o aumento no índice de violências principalmente o número de abusos sexuais e de violências contra mulheres, crianças e adolescentes, além da temática do aborto, para muitos um assunto ainda polêmico. “… a casa comum nos coloca no processo de uma pura descoberta, a primeira coisa que o cuidado da casa comum nos traz é que nós façamos um processo de conversão espiritual, pois é preciso mergulhar na realidade, é preciso sair da nossa zona de conforto.”, Irmã Marie Henriqueta.

Os distanciamentos entre as camadas sociais e suas discrepâncias deixam de forma mais nítida quem irá carregar a mais pesada conta deixada pela pandemia e é óbvio que as camadas mais pobres da população é que sempre arcam com a parcela mais injusta e dolorosa dessa desigualdade. “Agora com a pandemia veio a tona como o nosso sistema é desigual, a falta de recurso na saúde é cada vez mais nítida, para mim o grande desafio é como despertar a população de sair de sua individualidade e olhar para o próximo, viver na casa comum, nesse chão que é de todos nós. O Laudato Sí nos chama para refletir na casa comum como um todo, pois toda a vida é importante”, coloca Frei Wellington em sua participação.

No Brasil os direitos humanos são marcados por grandes desigualdades sociais, econômicas, culturais e tantas outras. Somos um dos países com distribuição de renda mais assimétricas do mundo, e essas desigualdades contribuem para a recorrência de graves violações aos direitos da população rural e urbana a acesso a direitos básicos, como a água potável e saneamento básico. É nesse cenário e para discutir esse impacto da desigualdade que a última Live da série Direitos Humanos em Tempo de Pandemia primou por trazer questões pertinentes de direitos no Campo e na Cidade.

Na conversa acompanhamos a participação de Cecília Gomes, da CPT Regional Nordeste 2/PB,e do advogado Pierre Gaudioso, do Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu /RJ e de Udo Lohoff, coordenador da Aktiokreis Pater Beda da Alemanha, todos trouxeram mais que opiniões individuais, o bate-papo expôs a realidade em que as instituições estão vivendo e como precisaram se reorganizar para atender as situações de vulnerabilidade das pessoas das comunidades e lutar pela garantia dos direitos. Para dar continuidade aos trabalhos em tempos de isolamento social, a Diocese de Nova Iguaçu e o CDH viram nas ferramentas digitais uma forma de atuação junto aos seus atendidos, por meio de informativos em rede sociais, plantões de atendimento via WhatsApp para informações, atendimentos psicológicos, sociais e jurídicos, trabalhos estes que revelaram o aumento de denúncias pela população de violência familiar. É diante desses desafios que o papel institucional do CDH se faz presente, atuando na fiscalização do Estado e o município, exercendo o papel de controle social entre outras atividades junto com a comunidade intensificando ainda mais nesses tempos.

“A Covid-19 é um problema mundial, infelizmente os povos pobres, moradores de periferia, a população carcerária, as pessoas em situação de rua são quem mais estão sofrendo com esses impactos.”, argumenta Udo Lohoff.

As disparidades no acesso a água potável e saneamento básico entre regiões rurais e urbanas são muitas e permanecem elevadas no mundo, no campo os números de violências e assassinatos crescem e as violações dos direitos aumentam a cada dia, Cecília Gomes da CPT relata que a maioria das vítimas assassinadas no campo são lideranças, como também as mulheres sofrem alguma forma de violência, 47% são líderes de assentamentos e de pastorais. “A maioria dos assassinatos são pelas lutas de terra, são comunidade e povos que lutam pelo seu território, como também por trabalho e água”. Os conflitos e desafios são grandes, porém, os sinais de esperança também se fazem presente no campo. “A gente acredita que o povo tem como viver melhor, em tempo de pandemia nosso povo produz para autossustentabilidade e ainda consegue fazer doações, isso é um grande sinal de esperança, a CPT tem esse papel denunciar, mas também de ajudar, anunciando sinais de esperança para o povo do campo”, apontou Cecília.

A SOLILIVE de Direitos Humanos em Tempo de Pandemia aconteceu nos meses de maio e junho e foram de suma importância para visibilizar as lutas e os trabalhos desenvolvidos pela Rede SoliVida e por instituições parceiras, além da relevância dos temas tratados, das reflexões e debates proporcionados, fica a certeza de que juntos somos realmente mais fortes.

Texto: Hercília e Esthevão

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