Alimentos e solo saudável, aumento da produção e diversificação de produtos: esses e outros benefícios o agricultor pode conquistar através da aposta nos Sistemas Agroflorestais (SAFs).
O SAF conquiste em um arranjo produtivo que prevê a coexistência de culturas anuais e/ou criação de pequenos animais com espécies madeiráveis e/ou frutíferas. Sabe-se que, com a melhoria da cobertura nacional do solo, é possível garantir sua saúde, evitando doenças provenientes da alta exposição ao sol e outras intempéries.
Os SAFs podem ser implantados através do plantio em fileiras associando árvores e culturais anuais e/ou pequenos animais, ou utilizando para o plantio das culturas anuais e criação de pequenos animais as Áreas de Proteção Permanente (APP).
O conhecimento antigo e não-científico de povos tradicionais, como indígenas e ribeirinhos já concebia a centralidade do solo como base da vida, o que encaminhou as pesquisas para o reconhecimento de que a qualidade do solo pode ser comprometida em diversos níveis, uma vez que “suportar a vida” implica ser suporte físico e sustento químico (nutrientes) para a vida visível encima dele (a vegetação) e menos visível, no interior do solo (as raízes juntamente com os mais diversos animais, como minhocas, artrópodes, aranhas), bem como ser um ambiente apropriado para reprodução de vidas invisíveis à olho nu (bactérias e fungos). A garantia de existência de toda essa “comunidade” é o que sustenta os ecossistemas de florestas, pastos, lavouras etc.
Apicultura e intensificação da agricultura familiar do Maranhão tem êxito garantido nos Sistemas Agroflorestais
Apicultura e intensificação da agricultura familiar do Maranhão tem êxito garantido nos Sistemas Agroflorestais Os pequenos agricultores, que antes praticavam só a agricultura de subsistência, agora tem apicultura como um novo negócio, construíram seus próprios apiários, onde fazem a multiplicação de colmeias possibilitando uma produção de mel acima do que coletavam anteriormente, de forma rudimentar. Essas são conquistas resultantes de um trabalho de ressignificação do conhecimento tradicional aliado às técnicas desenvolvidas para garantir a sustentabilidade através do convênio de Meio Ambiente INCRA/EMA. Hoje, junto ao trabalho com as abelhas, os assentados da reforma agrária de 12 cidades do maranhão, buscam preservar mais o meio, conscientes de que para produção de mel é necessário um equilíbrio ambiental que garanta o bem estar das abelhas.Importante ressaltar ainda que as abelhas também são grandes polinizadoras, o que auxilia na preservação e multiplicação de várias espécies de plantas.
Ciente da necessidade de garantir a preservação do solo para as futuras gerações no âmbito da reforma agrária, a Associação Educação e Meio (EMA) Ambiente vem apostando no Sabiá – Mimosa caesalpiniaefolia Benth – como espécie privilegiada para auxiliar na recuperação e manutenção da qualidade do solo nos assentamentos do Maranhão.
A garantia da biodiversidade da microfauna existente no solo pode contar com o Sabiá como importante aliado: “aos poucos está se relevando como o sabiá consegue fazer esses milagres de prosperar em solos degradados e ainda melhorar a qualidade desses solos. O segredo está nas alianças (‘simbioses’) que essa árvore traça tanto com bactérias e fungos.”
Christopher Gehring, professor doutor integrante do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Agroecologia da Universidade Estadual do Estado do Maranhão explica ainda que “as raízes finas do sabiá formam ‘nódulos’ que abrigam os ‘rizóbios’, um grupo de bactérias que conseguem fornecer o nitrogênio (o mais importante dos nutrientes) para a planta por meio de um processo chamado ‘Fixação Biológica de Nitrogênio’, em troca por energia solar que o sabia gera via fotossíntese. Outro aliado são os ‘Fungos micorrízicos arbusculares’, que também recebem energia gerada pela fotossíntese do sabia, pesquisados pela Dra. Camilla Nobre, também da UEMA. Essas múltiplas interações são largamente desconhecidas, estamos no início do nosso entendimento sobre esta espécie exemplar”
A pesquisa que está em andamento possui uma cooperação internacional com a Universidade de Nottingham, na Inglaterra, no âmbito de uma rede de pesquisa binacional do Fundo de Newton com financiamento do Fundo de Amparo de Pesquisa do Estado do Maranhão (FAPEMA). Ela surge da inquietação com os resultados positivos obtidos utilizando o Sabiá na prestação de serviços para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) em um convênio de Meio Ambiente executado pela EMA.
“Há muito tempo eu ouvia os agricultores dizerem que iam para “junquira” quando não tinha mais terra boa para plantar. O que eles chamavam de “junquira” eram áreas difíceis de roçar, com muita presença do Sabiá, uma planta espinhenta, mas onde sabiam que iriam encontrar condições de solo adequadas para suas culturas. Foi assim que nós da EMA tivemos a ideia de utilizar o Sabiá em sistemas agroflorestais, ou seja, associando outras culturas à uma espécie arbórea nativa com a intenção de melhorar o solo”, explica a agrônoma e coordenadora da EMA, Maria Elisabeth Detert. . A demanda de mudas para plantio de extensas áreas de Sabiá é suprida por meio do trabalho de uma cooperativa, a Terra e Vida, situada em Pirapemas, Maranhão, que possui capacidade para produção de até 400 mil mudas anualmente, e os resultados não poderiam ser melhores.
Sistemas Agroflorestais no bioma mata atlântica
Os SAFs tem modificado também a forma de trabalhar de diversas famílias vivem na região várzea da Paraíba desde 1995, em diversos assentamentos acompanhados pela Comissão Pastoral da Terra de João Pessoa (CPT).
Tudo começou com o termo “reflorestamento ambiental”. Com o passar do tempo os agricultores foram ganhando formações através da CPT e outras cooperativas e associações, o termo passou a se chamar sistema agroflorestal e ganhou espaço dentro dos assentamentos e foram temas de diversas discussões.
Há SAFs no assentamento Dona Helena localizado na cidade de Cruz do Espírito Santo, à 37 km da capital paraibana João Pessoa. O trabalho é acompanhado e monitorado pelos agentes da CPT, que realizam 01 vez a cada 03 meses visitas as famílias, para assistência técnica e outras formações. O trabalho da CPT na região acontece desde 1995, quando foi dado o suporte aos agricultores através da conscientização contra o uso de agrotóxicos: “a luta foi grande e continua até hoje, com o trabalho de reflorestamento e de combate ao uso de agrotóxicos”, afirmou Rafael, agente da CPT.
Diversos agricultores aderiram ao sistema agroflorestal, como foi o caso de Marcos Antonio que disse: “faz 16 anos que trabalho com esse sistema e até hoje está dando para viver, pois tudo que produzo eu comercializo na feira agorecológica, que acontece todas as sextas-feiras”. As feiras são realizadas pela CPT com apoio de cooperativas, instituições de ensino e de associações, como a Feira Ecovárzea, que acontece todas as sextas na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
As bancas começam a ser armadas as 03h30 da manhã, os clientes começam a chegar assim que os primeiros raios do sol saem, são 16 anos, desde 2001, quando começou em mangabeira, os agricultores comercializam semanalmente seus produtos produzidos nos seus quintais, produtos esses que a agricultora Josefa da Silva, que há 15 anos comercializa e produz, fala com toda a alegria que a feira é muito importante e não tem palavras para definir o quanto ela se orgulha de produzir o seu próprio alimento de sustento, sem ter alguém para passar o dinheiro do seu suor. “A feira é tudo para mim, na hora de selecionar, procuro escolher os produtos de acordo com a qualidade é na hora que vamos colher que é feita a separação dos produtos, na minha banca hoje o produto que mais sai, é o feijão verde e a cebola”, disse com alegria Josefa, agricultora familiar beneficiada pelo projeto.
Pensamos, porque várias pessoas procuram os produtos agroecológicos? Pergunta essa que várias pessoas se perguntam e segundo a Simone, moradora do bairro Castelo Branco, “A feira para mim é importante, pois enquanto diversas pessoas usam produtos com venenos, eu uso produtos totalmente saudáveis e livres de agrotóxicos, por este motivo escolhi comprar na feira ecovárzea”.
São diversas opções de legumes, frutas e alimentos, um ambiente verde, agradável aonde pode até tomar um delicioso café com tapioca feita da mandioca colhida nas terras da família da Alane, “ Eu moro em área de assentamento, sou filha de agricultores e produzo junto com eles e trazemos nossos produtos para a feira”. Alane também é agente pastoral da CPT e acompanha as famílias dos assentados.
“Conviver com a natureza é imitar a natureza sem agredir o meio ambiente e sem denegrir o solo, trabalhamos com a natureza aproveitando o que tem nela” é com essa frase, que o agricultor Marcos do assentamento Dona Helena define a importância do sistema agroflorestal.